domingo, 13 de mayo de 2007

Crítica ao panfleto Pensamentos Bárbaros de Wolfi Landstreicher

Crítica ao panfleto Pensamentos Bárbaros de Wolfi Landstreicher

Por Volonta Terrarottura

O autor deste panfleto tem executado um papel vital no que penso ser projetos básicos para os anarquistas: analise crítica do miserável confinamento, da torturosa situação em que estamos, e a rigorosa exploração de um projeto anarquista. Por anos, o autor tem sido preciso sobre o que ele se opõem: todos os confinamentos das ilimitadas paixões e desejos de um egoista-comunista (ou seria comunista-egoista): ou seja, a civilização. Frequentemente me causando uma pausa, uma contemplação, e me lembrando de sempre manter minhas idéias abertas para uma perpétua revisão (isto sobre questões, não respostas). O autor é potente especialmente quando confronta a moralidade, a ideologia e a alienação. Embora possuímos algumas diferenças em perspectivas e prioridades , o autor tem sido uma voz crucial de integridade em desafiar as armadilhas frágeis e os dogmas de varias perspectivas anarquistas. Pensamentos Bárbaros é util em levantar seu criticismo explícito das analises anarquistas-verdes/anarco-primitivistas, mas é limitado em certa extenção sobre aplicações práticas devido algumas generalizações grosseiras, sua propria rigides, e uma priorização que parece ser antropocêntrica na natureza. Embora isto é apenas uma crítica (não uma análise detalhada ponto a ponto ou uma resposta), como um(a) anarquista-verde insurrecionário(a) ( e considerado(a) "quase" primitivista), que aprecia muitas das críticas levantadas no perpetuo debate primitivista/insurrecionário, tentarei colocar o que percebi como contribuições, bloqueios infelizes e desacordos pessoais com este notável panfleto. Eu tenho ficado fora dos excessivos ( e pelo que tenho ouvido, muitas vezes de mente-estreita) debates virtuais sobre este ensaio, e apenas ofereço minha opinião baseado em minhas interpretações pessoais desta leitura. Pensamentos Bárbaros começa perguntando algumas grandiosas questões: "O que é uma crítica revolucionária? O que é civilização? O que uma crítica revolucionária significa no domínio das idéias? O que significa uma crítica revolucionária da civilização num nível prático?" Eu penso que a definição de civilização do autor é breve, mas vai ao ponto: "esta rede de instituições que dominam nossas vidas", todavia, eu devo concordar com alguns primitivistas, que a diminuição (e as vezes, quase uma rejeição) de um exame das origens destas instituições pode ser problemática, mas o mesmo vale para uma enfase exclusiva e limitada nas origens. Ultimamente, a preferência geral do autor tem sido o foco no "presente", com a intenção de criar uma "ruptura" com a ordem social atual. É uma motivação positiva, mas não estou certo que isto possa ser feito num vácuo sem olhar críticamente para trás e para adiante ( e sem olhar para fora das "relações sociais") em termos de dinâmicas e pontos de referência (as vezes não estou certo se o autor poderia necessariamente discutí-los).

O autor chama atenção a uma reversão da noção ideológica e linear de Progresso, o que ele vê em alguns conceitos primitivistas de uma "civlização única", e "retornar" para um existência ideal ou "mítica" ( no lugar de rejeitar completamente este mito). No entanto o ponto é claro, existem algumas trajetórias básicas das civilizações que podemos traçar e comparar, o que pode supor algumas predisposições a certos tipos de domesticação. Eu também desconheço qualquer anarco-primitivista que rejeita a evolução cultural multilinear das civilizações em diferentes areas geográficas (isto não exclui ocasionais retóricas piegas ou obscuras ). Com muitas destas dissecações de advertência ao decorrer do panfleto, exemplos específicos realmente teriam sido de muita utilidade, porque muitas vezes o leitor é deixado com uma impressão de que as questionáveis tendências discutidas fazem parte de uma porção significante do discurso primitivista. Menções ocasionais de que são apenas "algumas" pessoas parece perder a importância devido ao tom de displicencia predominante em relação ao primitivismo.

Uma das minhas preocupações fundamentais com a forma geral do panfleto tem haver com a insistência do autor em definir uma "crítica revolucionária", um tema que (ao meu ver) se torna um caminho muito escorregadio. Eu concordo com o autor, de que qualquer ferramenta ou crítica guiada pela moralidade não pode quebrar fundamentalmente com a civilização, já que a moralidade é o código deste sistema. Embora eu use o termo "revolucionário" como um adjetivo ocasional quando descrevendo uma idéia, conceitos e ações mais gerais que rejeitam completamente ou que vão de contramão a atual estrutura (geralmente, como o autor parece usar o termo), eu tenho me afastado cada vez mais disso porque fico particularmente nervoso quando isso começa a ser usado como um medidor ou uma moldura para supostamente rejeitarmos ideologias, moralidades ou estratégias limitadas. Muitos discursos anarquistas têm me mostrado que uma motivação ou estética "anti-ideologia" pode facilmente se tornar ideológica. Como um atalho para explicar o potencial radical, a palavra "revolucionário" pode ser útil, mas como um guia para aplicação teórica e prática, ela pode muitas vezes se tornar limitado, e eu sinto que este panfleto, embora esteja criticando esta tendência, também começa a ir nesta direção.

Um dos meus maiores desacordos com o autor é sua absoluta recusa do biocentrismo, considerando "totalmente inútil" de um "ponto de vista revolucionário" devido sua "perspectiva moral inerente". Embora muito das origens do pensamento biocentrista são de uma posição moralista, o empurrão para a compreensão das nossas relações com o resto da vida de modos diferentes e menos coisificadores ( não se "submentendo" a "natureza" como o autor alega), foi parte de uma mudança importante, apesar de suas limitações. Alguns anarquistas tentaram reivindicar ou redefinir um olhar biocêntrico (baseado na vida) como uma forma de conectar (como humanos) mais profundamente e significativamente, e menos opressivamente com a vida fora de nós mesmos. O autor alega que o "biocentrismo meramente procura expandir os direitos e proteções ao mundo não humano sem desafiar as raizes da ordem social". Esse olhar biocentrista limitado pode ser verdade para aqueles que tenta criar uma ideologia a partir do desejo de ir em direção a uma realidade mais centrada na vida, mas se nós examinarmos as raizes da ordem social eu argumentaria que as instituições doentias e alienantes que temos a nossa frente foram criadas por uma mentalidade que rejeita especificamente uma conexão profunda com toda a vida. Eu acho que a super-enfase na luta de classes ("os perigos fundamentais dessa sociedade esta nas relações sociais que ela impõem") as custas de um exame íntimo de nossa alienação do resto da vida é pertubador no sentido de que cria limites artificiais sobre nossa existência como "humanos" (como criaturas funcionando somente no contexto social humano).

Em afirmações de varios anarquistas de que o "ambiente" é uma "questão" importante é obvio que alguns vêem "o ambiente" como uma "coisa" externa a se salvar, ao invés de parte de nós no caminho em direção a nossa libertação pessoal e coletiva. O autor também descarta os ecologistas profundos e biocentristas por gastarem muito tempo no processo legislativo. Embora essa seja uma crítica importante sobre alguns biocentristas, ele novamente argumenta que isso é inerente nestas idéias. Anarquistas com perspectivas biocentristas rejeitam fortemente tais caminhos. É possivel ser influênciado por conceitos ou navegar por certos terrenos sem automaticamente absorver toda a bagagem anterior ou por pensadores contemporâneos que compartilham perspectivas similares. O autor aparentemente se sente assim em relação ao "comunismo" mas não ao "biocentrismo". Embora a bagagem do comunismo, apesar de suas origens libertadoras, parece menos propença a ser transcendido devido a sua expressão horrivel no "mundo real" do que qualquer aspecto questionável de visões biocentricas. Para mim, idéias e conceitos são fluidos e envolventes, e as expressões comumente compreendidas e contemporâneas de idéias são de máxima importância para nossa vida. Aparte de tudo isso, o autor esta correto em alegar que a misantropia (aversão a sociedade, N. do T) não é necessariamente "revolucionária", mas pessoalmente (como um(a) anarquista-verde falando) alguns dias ( não todo dia, ou pelo menos não o dia todo) eu posso realmente entender alguns dos sentimentos pessimistas dos ecologistas profundos.

Eu gostaria que o Earth First! Journal tivesse um limite misantrópico ( não porque ele necessariamente reflete minha perspectiva), para que você pudesse ver que ainda havia alguma raiva e uma energia niilista sóbria ainda viva ao invés de "101 maneiras de construir um movimento 'diferente' " de eco-bonecos bem sociais ( desculpe, um dos lados menos disciplinados da minha crítica "revolucionária" esta vazando... vou continuar antes que eu seja chamado de contra-revolucionário).

Muito dos Pensamentos Bárbaros parece focalizar em, ou em ser um contra-ponto para a visão primitivista da civilização. Eu, assim como o autor deste ensaio nunca me chamei de primitivista, por razões conflituosas, mas certamente não tenho a mesma hostilidade em relação a crítica primitivista. De fato, minha crítica à civilização é grandemente baseada no que o autor chamou de "características presumíveis de sociedades 'primitivas' ". Deveriamos ver as descobertas antropologicas como algo um tanto especulativo e embutido com a lógica da civilização?

Claro, mas não acho que é necessário jogar fora o bebê com a água do banho. Com alguma suspeita saudável, ainda há muito que podemos (mais ou menos) discenir do material cultural de várias sociedades primitivas. Eles viviam como caçadores-coletores, eles obtinham seu sustento numa base diária e se adaptaram ao seu ambiente usando pedra, ossos e madeira, e o fato de que eles deixaram poucos vestígios é uma evidência de quão gentilmente eles caminhavam pela Terra ou o quanto não-monumentais e não-institucionalizadas as suas comunidades eram. Isso não é de forma alguma completamente "especulativo". Podemos também olhar coletores-caçadores contemporâneos e observar dinâmicas similares ou parecidas de como as pessoas podem se relacionar um com outro sem coerção ou instituições. Deveria isso definir quem nós somos ou para onde vamos? Definitivamente não. Mas isso pode ajudar a nos informar seriamente sobre algumas possibilidades humanas positivas e negativas. Concordo com o autor que definir a "natureza primária" decisivamente pode ser problemático em qualquer sentido absoluto, mas a maioria das tentativas primitivistas de esclarecer que o que eles estão examinando é o registro do percurso humano não determinando conclusões finais sobre o que nós somos inerentemente.

Também sinto que as ênfases de alguns primitivistas quanto a uma "guerra primal", uma que tenta ir além de perímetros sociais e adentrando aos campos biocentricos instintuais, é bem provocativo, mesmo que saia um pouco do "caminho revolucionário" do autor. O tema do 'colapso' parece especialmente pertubador para o autor porque descarta aqueles que se preparam para "uma implosão antecipada de vários sistemas civilizados", implicando que aqueles que se focalizam nas "habilidades primitivas" não podem envolver-se também em um "confronto consciente com as realidades que a realidade civilizada criou". Mais uma vez, definindo o que é "revolucionário" e o que não é, "ele preferiria aplicar esforços em desmantelar conscientemente a ordem social através de esforços revolucionários".

Eu também tenho minhas próprias precupações de que alguns primitivistas rejeitaram o conflito direto com a ordem social para que possam perseguir papéis niilistas mais passivos, mas parece compreensível para mim que alguns tomem esta direção. Não é meu caminho por razões estratégicas e pessoais, mas não julgo aqueles que lidam com essa realidade miserável de formas mais ociosas ou "escapistas" e não presumo "saber" o que é realmente "revolucionário". Eu sou crítico quanto a revolução como uma dinâmica social provável (ou desejável). Muitas vezes entro em contato com meu lado ativamente niilista destrutivo fora do campo da "revolução social". Parte disso pode ser como definimos a palavra "r", mas parte disso vem de um desejo de não controlar e não ser controlado, nem predeterminar qual é o desenrolar e a trajetória de desmantelamento das civilizações. Momentos ápices insurrecionais contra a civilização em nossos próprios termos que nos motiva é de muito interesse para mim, mas também são muitos métodos de retorno ao natural que podem ser vitais em desafiar a lógica civilizada em nossas próprias vidas e não diretamente contradiz a atividade insurrecional. Aprender métodos de viver sem a civilização (instituições, industrialismo, produção, tecnologia, etc) podem ser alguns dos aspectos mais potentes e concretos de uma praxis anarquista anticivilização e pode quebrar aspectos significativos de mediação em nossas vidas. Novamente, como isso entra em conflito com o atacar o sistema mais diretamente?

Eu acho que a discussão do autor sobre as origens (alienação, linguagem, tempo, etc) é algo um tanto interessante, em alguns sentidos limitado e as vezes não convincente. Ele descreve a alienação "a separação de nossa existência de nós mesmos através de um sistema de relações sociais que rouba nossa capacidade de criar nossas vidas em nossos próprios termos". Eu sinto que isso aponta adequadamente aspectos da dinâmica alienada , mas ele descarta a noção de que humanos (num sentido geral) talvez tiveram em algum momento uma relação mais íntima com a natureza, da qual se separaram. Ele considera isso "quase-místico" e paralelo a uma "teologia-cristã" pois requer "redenção de um mundo caído". Enquanto estes paralelos são interpretações interessantes eu não acho que é como a maioria dos primitivistas vêem as infelizes mudanças em direção a civilização, nem os processos de se tornar feral. Nós nos tornamos alienados de nós mesmos, de um com o outro e do resto do mundo através de vários processos de domesticação, e sim, primariamente devido a "relações sociais". Não estou convencido apesar disso de que as fontes da alienação que os primitivistas frequentemente descrevem não encontram também a maioria de suas origens nas "relações sociais" especialmente se alguem considerar partes maiores da nossa separação como um produto da nossa domesticação.

Ele vai a ataque a John Zerzan (muitas vezes usando afirmações vazias) chamando-o de evangelhista por falar com a mídia e "indo a conferências para apresentar sua mensagem", e que "achou um santo no unabomber". Tendências evangelhistas vão de mãos dadas com todas tendências ideológicas, e embora possa haver um pouco de verdades nessa avaliação sobre Zerzan, parece haver pequenas tendências subliminares, e não motivações abertas - ele é um anarquista no coração. O autor, apesar disso, parece estar tão fixado em desmascarar Zerzan que ele pega um bom argumento como o cuidado com a reificação de relações sociais quando busca pelas origens, e produz idéias questionáveis sobre o tempo e a linguagem se referindo a destruição de linguas enraizadas pela ordem dominante, o autor afirma "a 'perda da linguagem' não nos faz menos alienados ou menos civilizados, simplesmente menos capazes de nos comunicar um com os outros", confundindo uma crítica da língua como um modo mediado de expressão e compreensão, com o horrível processo de padronização pelo capitalismo global (que os primitivistas frequentemente críticam também).

Ele continua para alarmar contra a crítica limitada do tempo, na qual ele enfatiza um olhar sobre relações sociais atuais, mais uma vez aparte de suas origens, e alertando contra o limitar e predeterminar o selvagem, mas excluindo as experiências dos povos primitivos. Eu aprecio a descrição do autor da luta de classes como "a luta dos explorados, dos despossuidos, dos proletarizados contra sua propria condição". Geralmente eu tendo a concordar com muito da forma como o autor descreve "classe" e seu papel como uma dinâmica fundamental da civilização, mas certamente não é a unica dinâmica, mesmo se você está somente se concentrando nas relações sociais. Afirmar que um projeto anticivilização é "na raiz uma luta de classes e uma luta egoista" tem suas limitações, e isso nunca é totalmente argumentado no texto. A estratificação social é sem duvida inerente na civilização, e aparece cedo em sua trajetória, mas a separação ou fratura de nós mesmos, da vida (humanos e outros seres) do selvagem, corre profundamente, e eu diria que é um aspecto fundamental da civilização.

Relações sociais têm um papel importante nisso? Claro, mas não exclusivamente. O autor reconhece a importancia da tecnologia em influenciar as relações sociais, mas e quanto aos arranjos tecnológicos sobre os quais novas relações são criadas? Nós podemos jogar o jogo da galinha e do ovo até sermos atropelados (sem nunca termos travessado a rua) ou podemos atacar aquilo que percebemos e entendemos que seja as origens, logicas, dinamicas e manifestações de controle em nossas vidas.

E claro, discussões profundas sobre nossas perspectivas são também vitais, mas não quando se torna um campo de batalha ideológico sobre quem realmente encontrou as origens ou a críticas de quem oferece a estratégia mais efetiva para os "despossuidos". Parte de mim realmente se identifica com a idéia de que a luta contra a civilização seja como um "projeto de reapropriação - ou de roubar de volta o que foi tirado de nós", se o que autor esta falando é sobre nossa autonomia em nossas vidas, mas ainda fico pensando... se nós estamos somente focalizados em relações humanas, o que isso quer dizer para o resto da vida? Por que uma "crítica revolucionária" gira somente em torno de relações humanas? Podemos realmente nos curar (se isso é desejavel para o autor) das feridas da civilização com sua perspectiva aparentemente antropocêntrica?

Nós não existimos em bolhas. Nós estamos interconectados com outros humanos, espécies, e fenômenos, e nós somos também indivíduos. Isso requer habilidades de se relacionar de forma complexa com nosso ambiente... lugares onde contradições e conexões parecem cruzar caminhos.

Existem definitivamente partes dos Pensamentos Bárbaros que me espantam, mas também existem partes que me fizeram questionar algumas tendências minhas e de alguns anarquistas anticivilização, e apesar de ambos os meus amigos insurrecionários e primitivistas poder me considerar suave e não crítico o suficiente em relação "ao outro lado" , estas são minhas opiniões, e eu recuso uma carteirinha de membro de ambos os times.

Valeu a leitura, mas com um olho extra crítico e um coração não-defensivo. É bom saber onde as pessoas estão, para que possamos fielmente determinar nossas conexões baseados na transparência ao invés de especulação ou suposições. Muito é dito ao colocarmos coisas na mesa.

Publicado na Green Anarchy #18

Tradução: Eduardo Morari e Lucio Tamino

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